17 de maio de 2025

Imagem: Felipe Braga

Soberania alimentar nas favelas: MPA e Fiocruz realizam aula inaugural do curso de Formação de Agentes Populares de Alimentação e Saúde (APAS)

Texto: Brenda Spinosa (Coletivo de Comunicação do MPA)

No dia 7 de maio, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), que fica em Manguinhos no Rio de Janeiro, sediou a aula inaugural do Curso de Formação de Agentes Populares de Alimentação e Saúde (APAS). O encontro marcou o início das atividades do curso e reuniu lideranças comunitárias, representantes institucionais e militantes da luta por soberania alimentar em uma roda de conversa sobre cultura alimentar, saúde e justiça social.

Com o tema “Soberania e Cultura Alimentar”, a atividade reforçou o papel central da alimentação na construção da saúde coletiva e da vida digna, especialmente nos territórios periféricos e camponeses. A aula pública foi aberta à comunidade e integrou o conjunto de ações do Plano Integrado de Saúde nas Favelas, iniciativa da Fiocruz voltada à promoção da saúde em territórios vulnerabilizados.

  Imagem: Felipe Braga

A mesa de abertura contou com a presença de Anamaria Corbo (diretora da EPSJV/Fiocruz), Danúbia Gardênia (representando a Agenda de Agroecologia da VPAAPS/Fiocruz), Marcelo De Luca (LAVSA/EPSJV), Muriel Zerbetto de Assumpção e Andresa Paiva (Movimento dos Pequenos Agricultores e Agricultoras – MPA), Renata Souza (deputada estadual pelo PSOL-RJ) e Richarlls Martins (representando o Plano Integrado de Saúde nas Favelas da Fiocruz).

Renata Souza destacou a relação entre o aumento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e o consumo crescente de alimentos ultraprocessados, que afetam de forma desproporcional a população negra, pobre e favelada.

“A alimentação industrializada, que se torna cada vez mais ível e presente no cotidiano dessas populações, é um reflexo de um processo mais amplo de racismo nutricional. Esse é um dos mecanismos do capitalismo para continuar invisibilizando a saúde e a vida da população mais pobre”, afirmou Renata. Ela enfatizou que, para além de uma questão de consumo, esse fenômeno está intimamente ligado à construção histórica das desigualdades sociais e raciais no Brasil.

Imagem: Felipe Braga

A partir de relatos pessoais e coletivos, as convidadas abordaram os impactos do atual modelo alimentar baseado em produtos ultraprocessados e destacaram o apagamento das práticas alimentares tradicionais. “Soberania alimentar não é apenas ter o que comer. É poder decidir como, onde e com quem plantar. É garantir um modo de vida, uma cultura e um território”, afirmou uma das participantes.

O curso APAS é uma ação de formação política e técnica, com foco na atuação comunitária e na promoção da saúde e da alimentação adequada nos territórios. Ao articular saberes populares e científicos, a proposta visa fortalecer a autonomia das favelas do Rio de Janeiro na construção de um sistema alimentar justo e soberano.

Com essa iniciativa, a O MPA, a Fiocruz e EPSJV reafirmam seu compromisso com a formação crítica e territorializada, em diálogo direto com os desafios concretos enfrentados pelas populações do campo e da cidade. Porque, como mostrou a aula inaugural, garantir comida de verdade para todos e todas é também garantir saúde, dignidade e justiça.